SOCIAL MEDIA

Os Honestos (Crônica de Martha Medeiros)

25 de setembro de 2012
Os Honestos (Crônica de Martha Medeiros)


Lendo o livro de Martha Medeiros, Doidas e Santas, me deparei com uma crônica deliciosamente bem escrita e bem colocada nos contextos atuais. A crônica chama-se O Honesto, e vou citá-la abaixo.

Aliás, tenho me identificado muito com o que a Matha Medeiros escreve, com suas tiradas, com suas percepções do cotidiano narradas de uma forma tão deliciosa de ler, com certeza eu não ficarei apenas nesse livro da autora. Vamos a crônica:

Leia e pense após a leitura.

♥♥♥

Os Honestos
Por Martha Medeiros


Eles são muitos, mas nada impede que apareçam na sua vida de repente e coloquem tudo a perder. Eu sei que você se protege, que seus advogados estão bem instruídos, que o pessoal dos recursos humanos sente o cheiro dessa gente de longe, mas descuidos acontecem, e a qualquer hora do dia ou da noite você pode ter a infelicidade de topar com um deles na sua empresa com crachá e tudo, infiltrado dentro desse império que você construiu com tanto esforço e dedicação, e será seu fim. Ele vai jogar seu nome na lama. Ele, o honesto. 

O honesto não da pinta de que é honesto, parece um sujeito comum, que você até apresentaria para sua filha. Você jura que ele ganha seu sustento como todo mundo, fazendo uma maracutaiazinha aqui, uma sonegaçãozinha ali, tudo nos conformes. Mas não, ele não é como todo mundo. Ele teve uma infância diferente. Teve pais que lhe deram valores e princípios. É um produto do seu meio, não tem culpa. De certa forma, a sociedade é responsável por ele. Ele é um excluído que só quer encontrar uma forma de sobrevivência, de ser alguém na vida. Escolheu este, o caminho da honestidade. 

Veja o que aconteceu nos EUA recentemente. Um funcionário de uma empresa de TV a cabo se recusou a mentir para os clientes. A companhia sempre treinou seus técnicos para ligarem o equipamento de TV à linha telefônica dos assinantes com o objetivo de lucrar mais. um troço corriqueiro. Os técnicos dizem que era um procedimento de praxe, que se o equipamento não fosse ligado a linha ele não funcionaria direito - uma mentirinha inocente -, então os clientes topavam e a empresa forrava o bolso de dinheiro com o pagamento de taxas de conexão. Estava tudo correndo bem, até que surgiu esse funcionário que resolveu avisar os clientes de que não era preciso fazer a conexão. Pronto. Por causa de uma única célula ruim, a empresa perdeu milhões, sem falar na desmoralização pública. O sujeito foi demitido, claro.

Assim como ele, há outros honestos atrapalhando o desenvolvimento da sociedade. São aqueles que se negam a receber uma propinazinha para agilizar uma negociação, que denunciam pequenas armações, que não superfaturam notas, que insistem em dizer sempre a verdade e que dão o péssimo exemplo de devolver o que não é deles, menosprezando a própria sorte.

São médicos que não prescrevem remédios à toa, mesmo que o paciente ache que está doente (se ele acha, o que custa incentivá-lo a consumir uns comprimidinhos e alavancar a indústria farmacêutica?). São comerciantes que não vendem produtos com prazo de validade vencido, servidores que não vendem carteiras de habilitação para quem não fez teste de direção, donos de bar que não vendem bebida alcoólica para menores, todos puxando o freio de mão da nossa economia. Sem falar nos que jamais desviam dinheiro - e assim não distribuem renda. 

Não dá pra acobertar essa gente. Quando se desmascara um, tem mesmo que colocar na primeira página do jornal. 

♥♥♥

E ai eu como blogueira te pergunto... Quais os valores que temos hoje? O do honesto ou o do malandro que quer sempre ganhar em tudo?

♥♥♥
Crônica retirada do Livro Doidas e Santas, pág. 67. Editora L&PM Editores. 31° edição.
Compre o livro através desse link e ajude o blog





5 comentários :

  1. Gostei desse trecho do livro e fiquei curiosa para lê-lo!
    Tenha uma boa semana, querida!
    Beijos!

    ResponderExcluir
  2. Oi Monalise,

    Sou suspeita para falar das crônicas de Martha Medeiro, pois AMO demais tudo que ela escreve. Conheci a Martha através da Fernanda Reali e nunca mais a deixei... Já li FELIZ POR NADA, TREM-BALA, NON-STOP e estou lendo agora MONTANHA-RUSSA e posso te garantir que são todos de excelente qualidade. Não conhecia esse e com certeza estará na minha lista dos próximos livros a comprar.

    Quanto a sua pergunta, infelizmente o que anda predominando no mundo é o estilo MALANDRO, mas acredito que, aos poucos, as pessoas irão melhorando... Não custa nada sonhar né???

    Amei sua postagem, principalmente por ter falado da minha escritora preferida!!!

    Beijinhos para você!!

    ResponderExcluir
  3. Já li este livro, e me apaixonei pelos textos dela deste o primeiro!! Lá no meu blog, vira e mexe (ou qdo não tenho assunto... kkkkkkk), acabo postando um texto dela. E adoro tds!
    Aqui, infelizmente temos a cultura do "jeitinho brasileiro", motivo de orgulho pra muitos, mas que na maioria das vezes é pra levar vantagem sobre alguém ou alguma coisa. Lamentável.
    Uma ótima terça!!
    Bjns

    ResponderExcluir
  4. ainda não li o livro todo,somente alguns trechos soltos,mas a Martha é realmente uma excelente escritora!
    A crônica vai bem em qualquer época da nossa história!
    Adorei seu blog!
    Bjs,
    leska

    ResponderExcluir
  5. Monalise, adoro a Martha Medeiros. O texto é ótimo, atual e é com uma conversa com uma amiga sábia. Este texto é especialmente bom.
    um bj,

    ResponderExcluir

Vamos trocar conhecimento, deixo meu instagram pra vc me acompanhar mais de perto,
@dividindoexperiencias e para coisas de dona de casa @casa_arte_cozinha :) obrigada por comentar!